É fato - para aqueles que me conhecem - que, desde muito tempo, tanto que eu nem sei quanto, admiro o trabalho do cantor e compositor baiano Raul Santos Seixas. Dentre as várias formas pelas quais fui, e ainda sou, influenciado por ele, uma delas, talvez a mais forte, que é oriunda da minha necessidade de entender totalmente suas músicas é a pesquisa da filosofia e da cultura que influenciaram esse artista a compor suas canções, ou seja de onde ele tirou suas idéias.
Não é preciso ser um grande conhecedor de suas músicas para perceber a constante influencia da literatura em seus versos - não a toa, Paulo Coelho, seu mais famoso co-autor, é hoje o autor brasileiro mais lido no planeta - Logo de cara vislumbramos "Gita" que foi inspirada no maior poema épico do mundo, o indiano Bhagavad-Gita, ou "Por Quem os Sinos Dobram", livro homonímo do consagrado escritor americano Ernest Hemingway, outro texto interessante, e que é o motivo de toda esta conversa é o poema abaixo transcrito do espiritualista San Juan de la Cruz:
"Que bem sei eu a fonte que mana e corre
Mesmo sendo noite!
Mesmo sendo noite!
Aquela eterna fonte está escondida.
Bem eu sei onde tem sua guarida,
Mesmo sendo noite!
Bem eu sei onde tem sua guarida,
Mesmo sendo noite!
Sei que não pode haver coisa tão bela
E sei que os céus e a terra bebem dela,
Mesmo sendo noite!
E sei que os céus e a terra bebem dela,
Mesmo sendo noite!
Sua origem não a sei, pois não a tem,
Mas sei que toda a origem dela vem
Mesmo sendo noite!
Mas sei que toda a origem dela vem
Mesmo sendo noite!
O fundo dela, sei, não pode achar-se;
Jamais por ela a vau pode passar-se,
Mesmo sendo noite!
Jamais por ela a vau pode passar-se,
Mesmo sendo noite!
É claridade nunca escurecida
E sei que toda a luz dela é nascida,
Mesmo sendo noite!
E sei que toda a luz dela é nascida,
Mesmo sendo noite!
Tão caudalosas são as suas correntes
Que céus e infernos regam, mais as gentes,
Mesmo sendo noite!
Que céus e infernos regam, mais as gentes,
Mesmo sendo noite!
Nascida de tal fonte, esta corrente
Bem sei que é mui capaz e omnipotente,
Mesmo sendo noite!
Bem sei que é mui capaz e omnipotente,
Mesmo sendo noite!
Das duas a corrente que procede
Sei que nenhuma delas antecede,
Mesmo sendo noite!
Sei que nenhuma delas antecede,
Mesmo sendo noite!
Aquela eterna fonte está escondida
Neste pão vivo para dar-nos vida,
Mesmo sendo noite!
Neste pão vivo para dar-nos vida,
Mesmo sendo noite!
Aqui está chamando as criaturas:
Desta água se saciem, e ás escuras,
Porque é de noite!
Desta água se saciem, e ás escuras,
Porque é de noite!
É esta a viva fonte que desejo
E neste pão de vida é que eu a vejo,
Mesmo sendo noite!"
E neste pão de vida é que eu a vejo,
Mesmo sendo noite!"
O qual foi base para a composição da música "Água Viva", que a letra já foi publicada em outro post. Essa música, por mim considerada uma das mais belas, fez com que eu procurasse e descobrisse quem foi San Juan de la Cruz e lêsse seus textos. Certa vez, quando eu estava em minha busca por esse poema, fui até a livraria Paulinas situada na capital do estado. Confesso que não pretendia adquirir o livro com sua obra completa, estava apenas "curiando" pra ver se encontrava o poema, mas a primeira frase da introdução da obra, foi mágica e me deu o sinal para comprá-lo de imediato, com ela, quero encerrar a postagem de hoje:
"Deus é verdadeiramente misterioso nas suas obras..."
Nenhum comentário:
Postar um comentário